Encontro ocorre até o dia 14 e reúne estudantes, professores, técnico-administrativos e representantes de movimentos sociais
Começou nesta sexta-feira (12), o III Encontro Nacional de Educação (ENE) na Universidade de Brasília. A mesa de abertura foi composta por diferentes entidades que defenderam a educação sob a ótica de um projeto classista e democrático. O evento ocorre até o dia 14 e reúne centenas de estudantes, professores, técnico-administrativos e representantes de movimentos sociais.
Camila Marques, do Sinasefe, destacou a importância da reorganização da classe trabalhadora diante dos inúmeros ataques postos a classe trabalhadora. “Como chegamos a essa conjuntura? A ultradireita se reorganizou mundialmente e ela tem uma perspectiva de classe. É um projeto dominante para nos destruir e cabe a nós nos reorganizarmos enquanto classe trabalhadora”, disse.
Esther Lemos, da Associação brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (Abepss), denunciou o atual projeto fascista de educação, além de fazer uma apresentação com breve histórico e dimensão da entidade “A Abepss aposta na formação com perspectiva classista. Nesse sentido, participamos do ENE e desejamos construir as articulações políticas necessárias para frear a barbárie que estamos vivendo em nosso país”.
Lucelma Braga, da Associação Brasileira de Educadores Marxistas (Abem), destacou a importância de sair do encontro com um cronograma de lutas. “Reafirmamos o nosso compromisso em participar das lutas que precisam efetivamente de uma maior unidade, considerando que estas são necessidades históricas incontornáveis na atualidade”, disse ao se referir aos ataques que estão por vir.
A democracia e o direito à educação foram defendidos por Daniela Neves, do Conselho Federal de Serviço Social (Cfess). “Saúdo aos que aceitaram o chamado para construir, nesse momento histórico de necessidade, o fortalecimento das nossas articulações para ampliá-las para além dos espaços sindicais, de juventude e levar este debate para outros sujeitos, dizendo quais projetos de educação nós defendemos”.
Já Toninho Ferreira, da Fasubra, relembrou a luta das mulheres como um exemplo a ser seguido para enfrentar o atual governo. “O processo de transformação social passa pelas mulheres. Temos que resistir e iremos conseguir. Já passamos por uma ditadura militar, freamos ataques brutais à classe trabalhadora na década de 1990 e, mais uma vez, a classe trabalhadora desse país está sendo atingida e precisamos responder a isso”. “O III ENE nos permite discutir o modelo de país que queremos para além da educação”, completou.
Gabriel Henrici, da Oposição de Esquerda da União Nacional dos Estudantes (UNE), expressou preocupação diante do momento “perigoso” aos que defendem a liberdade de expressão e produzem conhecimento nas instituições. “O próprio Ministério da Educação se produz obscurantismo e fake news. Precisamos fazer uma campanha nas escolas e universidades de enfrentamento a políticas que querem acabar com a gratuidade do ensino e com a nossa liberdade de expressão”.
José Júnior, da Federação Nacional dos Estudantes em Ensino Técnico (Fenet), afirmou que o III ENE expressa a luta da juventude e dos trabalhadores em defesa de um projeto classista de educação na perspectiva da emancipação trabalhador brasileiro. “A realização desse encontro tem três pilares principais. O da resistência, que se expressa no olhar de cada um de nós; a radicalização das lutas, com as ocupações nas escolas, os atos em Brasília nos últimos períodos e a luta das mulheres; e a defesa de um projeto classista de educação”, disse. O estudante citou como inadmissíveis os recentes casos de barbárie vividos em escolas. Um deles, o massacre em uma escola em Suzano (SP). O outro, a agressão de um policial, que portava uma escopeta, a uma criança em uma escola em Guarulhos (SP).
Joaninha Oliveira, da CSP-Conlutas, relembrou a participação da Central na construção do Encontro Nacional de Educação desde a sua primeira edição em 2014, no Rio de Janeiro. Para ela, é de extrema importância “ter um plano educacional feito e discutido por nós, lutadores, e que ele seja referência”. A dirigente da CSP-Conlutas criticou o atual governo que, para ela, tem traços fascistas e pretende privatizar a Educação Pública. “Essa Reforma da Previdência será nefasta para a juventude e aos trabalhadores. Temos que nos unificar ao conjunto da classe trabalhadora e construir a greve geral para derrubar a Reforma. Não haverá negociação”.
Segundo Antonio Gonçalves, presidente do ANDES-SN, a realização do III ENE impõe uma grande tarefa, que é a de construir um projeto classista para a educação. “O nosso projeto de educação não é compatível com o capitalismo. Não podemos recuar em nosso discurso. O ANDES-SN compreende que a luta se faz com unidade e com envolvimento de todos os segmentos. Por isso, chama a classe para construir o Fórum Sindical Popular e de Juventude para que possamos contribuir na nossa unidade de ação”.
Aline, da Assembleia Nacional dos Estudantes Livres (Anel), convocou a juventude presente a romper os projetos reacionários e romper com os modelos de educação que servem ao capital. “Vamos nos organizar nos nossos locais de estudo, nos locais de trabalho a partir de comitês populares. Vamos construir uma grande greve geral no país para barrar a reforma da Previdência e revogar a reforma do Ensino Médio, a Emenda Constitucional 95/16”.
O professor de sociologia da rede estadual de ensino do Rio de Janeiro, Pedro Mara, denunciou a situação vivida por ele recentemente. Mara foi perseguido após pedir afastamento, por questões de segurança, ao saber que um dos acusados de assassinar Marielle Franco e Anderson Gomes monitorava a sua vida. “No relatório a que tive acesso, ele sabia a placa do meu carro, os caminhos que eu andava”. Após o conhecimento, o professor teve que se afastar por questões de segurança. “O Estado, que deveria garantir a minha vida, foi o o primeiro a me perseguir”. Ele também contou que o seu salário está bloqueado.
Na mesa de abertura, ainda participaram duas diretoras de sindicatos combativos na Argentina. Claudia Baigorria, da Federação Nacional dos Docentes e Pesquisadores Universitários da Argentina (Conadu Histórica), saudou os participantes e a iniciativa do III ENE.
Baigorria falou da relação entre a situação vivida no Brasil e na Argentina. “Nós estamos passando pelo mesmo, com governos de ultradireita que retiram os direitos dos trabalhadores, saqueiam os nossos recursos, os territórios, e destróem a educação pública, a seguridade social e o futuro de nossos filhos”, ressaltou.
Romina Del Plá, secretária geral do Sindicato Unificado dos Trabalhadores da Educação de Buenos Aires e deputada federal, ratificou o discurso de Claudia. “Sou de um sindicato combativo e enfrentamos os governos e também as direções sindicais burocráticas, que não defendem os direitos dos trabalhadores e estudantes e que são vendidos a políticas do governo. Esses sindicatos burocráticos, em épocas de eleição, dizem que este não é o momento de lutar, mas sim de esperar. O candidato do partido patronal que irá enfrentar Macri, no próximo pleito, já disse que seguirá o acordo com o FMI e dará sequencia às reformas trabalhistas e da educação e, portanto, precisamos fazer a luta, agora”, disse.
Mesa
Nesta sexta-feira (12) serão realizadas ainda as mesas de debate “Capitalismo e Educação – Lutas internacionais e nacionais pela educação pública”. E, no início da noite, ocorrerá um ato cultural seguido da mesa “Movimentos sociais e as experiências de educação popular no Brasil”.